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Os principais desafios da saúde no Brasil

17 janeiro, 2024

Já é senso comum que a saúde brasileira enfrenta inúmeros obstáculos, mesmo com alguns pontos de excelência e exemplares para o resto do mundo. Isso não se restringe apenas ao setor público; o setor privado também enfrenta alguns problemas.

Pensando nisso, decidimos trazer alguns dos principais desafios da saúde no Brasil para você ficar por dentro desse assunto tão importante. Continue lendo! 🩺

Os desafios da saúde brasileira

Antes de falarmos sobre os desafios que cada segmento da saúde enfrenta, precisamos apontar aqueles que são problemas gerais, que tanto o SUS quanto a saúde suplementar precisam lidar em seu dia a dia, como:

Gestão de cuidado com doenças, ao invés da prevenção

Já é natural que procuremos nossos médicos quando estamos com algum sintoma, não é? Há pessoas que passam anos sem fazer exames de rotina, consultas mais leves e menos custosas, e acabam buscando por atendimento quando já estão muito doentes.

A Atenção Primária à Saúde (APS) é um desafio de todo o setor da saúde. Ao invés de um cuidado contínuo e preventivo, a cultura do cuidado com doenças já confirmadas afeta a qualidade de vida dos pacientes e a economia dos setores público e privado.

Judicialização

Segundo o Art. 196 da Constituição Federal de 1988, “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”.

Esse artigo garantiu o acesso ao SUS (Sistema Único de Saúde), mas também é utilizado como um dos argumentos principais em casos judicializados, tanto no atendimento público, quanto na garantia de cobertura dos planos de saúde.

Por se tratar de um direito constitucional, é muito comum que brasileiros procurem o poder judiciário para garantir o acesso à tratamentos não disponíveis no SUS ou que não são cobertos pelo convênio médico.

Segundo o Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), entre 2009 e 2017, a quantidade de processos relacionados ao setor cresceu em 198%. Em segunda instância, 23,8% e 14,4% dos processos tinham “plano de saúde” e “seguro” como tema, respectivamente, representando a judicialização do setor privado. No setor público, o tema era representado pelo tema “saúde”, o qual representa 23% dos processos em segunda instância. 

Ainda segundo o instituto, em 2016, os gastos com demandas judiciais consumiu mais de 1 bilhão de reais do SUS.

– Leia também: Judicialização da saúde suplementar no Brasil

Atendimento

De acordo com o Instituto Datafolha, em 2018, 89% dos brasileiros consideravam a saúde, tanto pública quanto privada, como péssima, ruim ou regular. Além disso, 73% dos entrevistados acreditavam que o atendimento não era igual para todos.

Esses números representam as diversas melhorias que o setor ainda precisa executar para aumentar a qualidade e a satisfação dos pacientes. Muito se deve ao:

  • Tratamento entre paciente e funcionários da saúde;
  • Demora para o atendimento;
  • Tempo de espera para procedimentos, como consultas, exames e cirurgias, entre outros.

Os desafios da saúde pública

Mais de 70% da população brasileira depende do SUS, segundo o IBGE. É certamente difícil manter a qualidade em saúde pública em um país de dimensões continentais como o Brasil, especialmente com a desigualdade social, que faz com que um grande número de brasileiros não tenha acesso à saúde suplementar.

O Sistema Único de Saúde não cuida apenas da parte assistencial da saúde, como também tem em sua estrutura a vinculação com diversas instituições e autarquias, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e até a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

São muitas divisões e, consequentemente, mais responsabilidades. Contudo, aqui estão os principais desafios da saúde pública no Brasil:

Sobrecarga + falta de médicos

Como já citamos anteriormente, uma enorme parcela da população tem acesso apenas aos serviços do SUS. Atender essa quantidade de pessoas já é desafiador por si só, mas a falta de médicos apenas piora esse quadro.

Segundo dados do CFM (Conselho Federal de Medicina) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existe 1 médico para cada 470 habitantes, mas quando se especifica esses números para as regiões Norte e Nordeste, a situação é ainda pior; nesses lugares, a quantidade de médicos por habitantes chega a 1 para cada 953 e 750, respectivamente.

Tempo de espera

Com o sobrecarregamento e má administração do SUS, o tempo de espera para conseguir realizar um procedimento é expressivo, especialmente quando se trata de procedimentos mais complexos, como cirurgias. 

Esse é o grande motivo que fez com que 39,8% dos entrevistados de uma pesquisa feita pelo Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) procurassem contratar um plano de saúde, com expectativas de que a demora por um procedimento fosse menor.

Falta de leitos

Reclamação recorrente dos usuários do SUS, a falta de leitos é um problema cada vez maior na saúde pública. Em 2017, havia 1,72 leitos para cada mil habitantes, número muito abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde, que é de 2,5 a 3,0 leitos a cada mil habitantes.

Além disso, em 2020, o Brasil possuia 426.388 leitos hospitalares. Em 2010 esse número totalizava 460 mil e, em 2015, 443 mil leitos. Ou seja, em uma década, houve uma queda de 7,4% no número de leitos.

Essa redução se deu principalmente nos leitos públicos do SUS, que perdeu 43 mil leitos – enquanto os hospitais privados aumentaram sua oferta em 9 mil leitos.

Má administração financeira

Segundo especialistas, o SUS é subfinanciado – ou seja, recebe bem menos recursos do que seria necessário para sua demanda. Ademais, o pouco dinheiro que recebe, sofre com uma alocação de recursos desigual e uma gestão insuficiente.

Os obstáculos do setor privado

Mesmo que tenha sido criado como uma alternativa complementar ao SUS, a saúde suplementar brasileira também está longe da perfeição. Os desafios da saúde privada vão desde problemas compartilhados com o sistema público, os quais já citamos anteriormente, até obstáculos próprios, como:

Instabilidade econômica

Momentos de crises financeiras assombram incontáveis setores, com a saúde privada sendo uma das principais. Famílias com dificuldades financeiras raramente optam por priorizar o plano de saúde, especialmente quando levamos em conta que a inflação interfere diretamente nos reajustes.

Um exemplo disso é o ano de 2022, quando a ANS aprovou um reajuste de 15,5% para planos de saúde individuais e familiares. Esse foi o maior aumento da história da agência, que tinha o objetivo de compensar a redução de 8,19% aplicada no ano anterior.

Já em 2023, de acordo com relatório do BTG, os planos de saúde também tiveram reajustes superiores à inflação oficial do ano, que fechou em 4,62%. Sozinhos, os planos de saúde subiram 11,52%.

Além disso, os reajustes impactaram tanto os planos individuais quanto os empresariais – sendo os segundos os mais impactados. Para se ter uma ideia dos valores, em 2023, a ANS estabeleceu o teto de reajuste da seguinte forma:

  • Planos individuais e familiares em 9,63%. São cerca de 8 milhões de beneficiários nesta categoria, representando aproximadamente 16% dos 50,6 milhões beneficiários dos planos de saúde no Brasil;
  • Os planos empresariais tiveram um reajuste médio de 22%;
  • Já os planos coletivos por adesão tiveram um reajuste médio de 26%.

– Veja também: Reajuste do plano de saúde em 2024: como funciona?

Descredenciamento de profissionais

Os planos de saúde dependem diretamente dos profissionais credenciados para garantir o atendimento de seus beneficiários. Quando esses profissionais se descredenciam, a reputação do plano pode estar em jogo, pois isso pode sobrecarregar os outros médicos disponíveis no convênio.

Além disso, é muito comum que alguns médicos deem prioridade ao atendimento particular e tenham um atendimento mais restrito aos usuários do plano, algo que pode gerar insatisfação dos pacientes.

Altos gastos

As operadoras de saúde têm bilhões de reais de gastos assistenciais por ano. Para se ter uma ideia, no primeiro trimestre de 2022, foram R$49.924.983.150,00 gastos, enquanto o total de 2021 chegou em R$207.649.359.814,00.

Embora o setor ainda tenha mais receita do que despesas, os números estiveram muito próximos no último ano. Isso, somado à inflação, fez com que o reajuste tivesse que chegar à porcentagem histórica de 15,5% para que a saúde suplementar não entrasse em colapso.

– Acesse: Altos custos nos planos de saúde: o que causa e como diminuí-los?

Combate à fraudes

Por fim, segundo estudo feito pelo Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS) em parceria com a consultoria Ernst Young (EY), as fraudes geraram perdas que variaram entre R$30 bilhões a R$34 bilhões aos planos de saúde no país em 2022.

Isso faz com que se torne fundamental adotar uma gestão de riscos, assim como uma política de controle e transparência. Afinal essas situações arriscam a reputação e o setor financeiro da operadora em níveis desastrosos.

– Saiba mais sobre os prejuízos causados pelas fraudes: Fraudes no plano de saúde: como acontecem e suas consequências

E então, quais são os principais desafios da saúde no Brasil, em sua opinião? Deixe aqui nos comentários o seu pensamento sobre o assunto!

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