Apostas online e saúde mental: o impacto na geração Z
O crescimento das apostas online no Brasil tem gerado preocupações não apenas no campo econômico, mas também na saúde mental de milhares de jovens.
Para se ter uma ideia, de acordo com o Datahub, o número de empresas de apostas no país subiu de 26 para 217 entre janeiro de 2021 e abril de 2023. Assim sendo, a popularização das apostas online esportivas e a falta de regulamentação eficaz na publicidade do setor fez com que a geração Z se tornasse especialmente vulnerável aos riscos desse tipo de atividade.
Aliás, dados recentes mostram um aumento expressivo no número de jovens tratados por dependência em apostas, refletindo a realidade alarmante desse vício em ascensão.
Segundo um estudo divulgado no Estadão, jovens com menos de 30 anos representam mais de um terço (36,3%) dos pacientes tratados por dependência em apostas no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo. Esse aumento tem preocupado o Programa Ambulatorial do Jogo (Pro-Amjo) do Instituto de Psiquiatria do HC.
Especialistas atribuem essa tendência à falta de regulamentação na publicidade e à expansão das apostas no Brasil.
Assim sendo, levando todo esse contexto em consideração, aqui vamos falar mais sobre os impactos das apostas online na saúde mental dos jovens, os desafios da regulamentação e a necessidade urgente de medidas de conscientização e apoio. Acompanhe!
- Veja também: Afastamentos por saúde mental no Brasil
A ascensão da geração Z nas apostas online
Em 2015, quando o Pro-Amjo começou a coletar dados sobre dependência em apostas, o número de pacientes com menos de 30 anos era de apenas um caso registrado.
No entanto, em 2023, essa realidade mudou drasticamente: 58 jovens com menos de 30 anos passaram a compor o perfil dos 160 pacientes atendidos, representando um aumento significativo que reflete a crescente vulnerabilidade dessa faixa etária ao vício em apostas.
Essa mudança não é apenas numérica, mas também qualitativa. Afinal, muitos desses jovens chegam ao tratamento já profundamente endividados, com dívidas que podem atingir valores exorbitantes.
Em muitos casos, são as famílias que percebem os sinais do problema — como a ausência de dinheiro, dívidas inesperadas ou comportamentos incomuns — e acabam descobrindo a extensão do vício.
Assim sendo, essas famílias, por vezes, relatam que os jovens escondem a dependência até que a situação financeira se torne insustentável, muitas vezes após contraírem empréstimos ou utilizarem cartões de crédito sem controle.
O aumento das apostas online
O "Raio X do Investidor Brasileiro", levantamento realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais), revelou que 29% dos jovens da Geração Z realizaram apostas esportivas em 2023.
Assim sendo, esse número expressivo destaca uma tendência preocupante: a crescente popularidade das apostas online esportivas entre os jovens, que muitas vezes enxergam o jogo como uma forma de investimento — uma tentativa ilusória de multiplicar seu dinheiro.
Para esses jovens, o apelo das apostas online vai além da simples diversão; é visto como uma oportunidade de melhorar sua situação financeira.
A promessa de ganhos rápidos e a possibilidade de transformar pequenas quantias em grandes prêmios criam uma expectativa irreal, alimentada pela narrativa de que "qualquer um pode ganhar". Assim sendo, influenciados por essa ideia, muitos começam a apostar com a crença de que estão fazendo um “investimento” e que, eventualmente, terão um retorno significativo.
Publicidade e regulação das apostas online: desafios adicionais
As apostas esportivas foram regulamentadas no Brasil em 2023, mas a publicidade continua a ser um problema. Dessa forma, especialistas alertam que a propaganda irresponsável, muitas vezes direcionada a jovens, promove o jogo como uma forma fácil de ganhar dinheiro, exacerbando o risco de vício.
O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) estabelece regras para impedir anúncios abusivos, mas a aplicação dessas normas ainda é um desafio.
Além disso, a Meta, proprietária do Facebook e Instagram, foi denunciada ao Ministério Público de São Paulo por veicular conteúdo de apostas online voltado a menores de idade. A empresa respondeu que restringe menores de 13 anos em suas plataformas e não permite conteúdo de apostas para menores de 18 anos.
Consequências das apostas na saúde mental dos participantes
A pressão financeira, o endividamento crescente e a sensação de perda contínua criam um ambiente de estresse intenso, ansiedade e, em casos mais graves, depressão. Dessa forma, o ciclo vicioso de tentar recuperar perdas pode levar ao isolamento social, à perda de autoestima e ao sentimento de desesperança.
Abordar esses temas e alertar sobre os riscos associados ao vício em jogos de azar, especialmente entre jovens, se torna cada vez mais importante. Assim sendo, empresas, escolas e instituições de saúde podem usar o foco na saúde mental — que se mostra cada vez mais importante — para promover discussões sobre os impactos das apostas online esportivas e outras práticas similares.
Além disso, é fundamental oferecer suporte, recursos de educação financeira e estratégias de enfrentamento para aqueles que já estão lutando contra esse tipo de dependência.
Por fim, esse também vale reforçar a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa sobre a publicidade de apostas, que frequentemente é direcionada aos jovens com promessas enganosas de lucro fácil.
Vale lembrar novamente que o objetivo final é criar um ambiente mais saudável para os jovens, onde a busca por uma melhor saúde mental seja prioridade, e onde existam recursos adequados para aqueles que enfrentam o vício em jogos de azar e apostas online.
- Para complementar o seu conhecimento sobre o assunto, confira também: O cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho