27% das internações em 2023 poderiam ter sido evitadas

Daniela Hendler
26/6/2024

As internações no Brasil representam um grande custo para o sistema suplementar de saúde como um todo. Isso acontece porque o custo dos serviços hospitalares envolvendo as internações engloba diversos fatores, como:

  • Infraestrutura completa - ou seja, contempla equipamentos médicos avançados adequados e, também, leitos para acomodar os pacientes;
  • Equipe profissional, como médicos, enfermeiros e demais profissionais da área da saúde; 
  • Tempo de permanência do paciente no hospital, que pode se estender dependendo da gravidade da condição tratada. Além disso, procedimentos médicos, cirurgias e tratamentos intensivos, como os oferecidos em unidades de terapia intensiva (UTIs), por exemplo, podem ser particularmente dispendiosos;
  • Administração de medicamentos, exames laboratoriais e de imagem, como tomografias e ressonâncias magnéticas, que aumentam os custos totais. 
  • Uso de insumos médicos, como materiais descartáveis e próteses.

Ou seja, as internações no Brasil incluem a coordenação de múltiplos serviços, assim como a garantia de conformidade com regulamentações e padrões de qualidade. E é claro que tudo isso impacta nos custos para o setor. 

Assim sendo, é justamente sobre as internações no Brasil e o seu impacto que falaremos aqui. Acompanhe!

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O impacto financeiro das internações no Brasil

De acordo com um estudo feito pela Planisa, empresa de serviços de Gestão de Custos para a área de saúde, foi revelado que, em 2023, cerca de R$ 53 milhões foram desperdiçados em internações devido a falhas na assistência primária de saúde apenas com duas patologias específicas:

  • Infecção do trato urinário (CID N39.0);
  • Pneumonia bacteriana não especificada (CID J15.9).

Essas são consideradas Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP). Ou seja, internações que, com um atendimento adequado na atenção primária, poderiam não ter evoluído para casos mais graves e que necessitam de internação. 

Aliás, para se ter uma ideia, em 2023, 27% das internações no Brasil foram classificadas como ICSAP. Isso significa que seria possível evitar muitas internações apenas seguindo boas práticas de atenção primária à saúde. 

Por fim, vale lembrar novamente que as internações no Brasil resultam em altos gastos para o setor de saúde e, além disso, podem sobrecarregá-lo. Isso tudo, é claro, além dos outros fatores relacionados com a internação, como a qualidade de vida do paciente, que poderia ter passado por um tratamento mais ágil, menos invasivo e sem internação. 

- Veja também: Linhas de cuidado na saúde: estratégia para redução de custos

A importância da atenção primária à saúde

A atenção primária à saúde (APS) é o primeiro nível de contato das pessoas com o sistema de saúde. Assim sendo, ela é caracterizada por ser a porta de entrada preferencial para o sistema, oferecendo cuidados abrangentes e contínuos. Dessa forma, a APS é essencial para a:

  • Promoção da saúde;
  • Prevenção de doenças;
  • Diagnóstico e tratamento inicial;
  • Gestão de condições crônicas;
  • Encaminhamento para níveis de atenção mais complexos quando necessário.

Assim sendo, investir na atenção primária pode trazer inúmeros benefícios para a saúde pública e para a economia do sistema de saúde. Além de, é claro, minimizar as internações no Brasil. Abaixo falaremos mais sobre isso. 

Como a atenção primária pode reduzir as internações no Brasil

A atenção primária eficaz pode prevenir a evolução de condições simples para quadros mais graves que necessitam de internação. Por exemplo, condições como infecções do trato urinário e pneumonia bacteriana podem ser tratadas eficazmente no nível primário se diagnosticadas e manejadas adequadamente desde o início. Isso inclui:

  • Prevenção e educação: programas de educação em saúde e prevenção, como campanhas de vacinação, controle de doenças infecciosas, e promoção de hábitos saudáveis.
  • Diagnóstico precoce: capacitação de profissionais para o diagnóstico precoce de doenças, permitindo intervenções rápidas e eficazes.
  • Gestão de condições crônicas: manejo adequado de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, prevenindo complicações que podem levar à internação.
  • Acesso facilitado: garantir o acesso fácil e rápido aos serviços de APS, reduzindo a necessidade de buscar cuidados emergenciais ou hospitalares e, consequentemente, das internações no Brasil.

Consequências da falta de investimento na atenção primária

A falta de investimento na APS pode ter diversos impactos negativos para o sistema de saúde e para a população. Entre elas, destacam-se:

  • Aumento das internações no Brasil: a falta de um cuidado primário adequado leva ao aumento das ICSAP, resultando em mais internações que poderiam ter sido evitadas.
  • Custos elevados: internações hospitalares são significativamente mais caras do que tratamentos ambulatoriais. Dessa forma, elas geram um aumento considerável nos gastos do sistema de saúde.
  • Sobrecarga do sistema: com mais internações, os hospitais ficam sobrecarregados, prejudicando a qualidade do atendimento tanto para pacientes internados quanto para aqueles que necessitam de cuidados emergenciais.
  • Piora na qualidade de vida: pacientes que poderiam ser tratados de maneira menos invasiva na atenção primária acabam enfrentando internações prolongadas e complicações adicionais.

Diminuir a taxa de internações no Brasil passa pela atenção primária à saúde

Com todas essas informações, pode-se entender que investir na atenção primária à saúde é de extrema importância para reduzir as internações no Brasil que são consideradas evitáveis. Além disso, esse investimento também é importante para melhorar a eficiência do sistema de saúde como um todo. 

Ademais, vale reforçar que a APS tem o potencial de oferecer cuidados de saúde mais acessíveis, equitativos e sustentáveis. Assim, auxilia a prevenir a evolução de doenças e a proporcionar mais qualidade de vida à população. Inclusive, a redução das ICSAP não só alivia a pressão financeira sobre o sistema de saúde, mas também garante que os recursos hospitalares sejam utilizados para casos que realmente necessitam de cuidados intensivos.

Por fim, para alcançar esses objetivos e reduzir as internações no Brasil, é necessário um compromisso contínuo com o fortalecimento da APS. Isso inclui a capacitação de profissionais, a melhoria da infraestrutura de saúde e a implementação de políticas públicas que priorizem a saúde preventiva e o cuidado integral do paciente.

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