Atualização da NR-1: principais dúvidas respondidas

Juliana Kozoski
8/4/2025

A partir de maio de 2025, entra em vigor a nova versão da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), e com ela surge uma pergunta essencial para quem atua com saúde corporativa: o que muda na prática para as empresas?

A resposta envolve uma transformação silenciosa, porém profunda. pela primeira vez, os riscos psicossociais passam a ser oficialmente reconhecidos como parte do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), exigindo das empresas uma postura mais proativa em relação à saúde mental e ao bem-estar dos trabalhadores.

E é justamente nesse ponto que corretoras e consultorias ganham um papel ainda mais estratégico. Afinal, não se trata apenas de cumprir mais uma exigência legal — mas de aproveitar uma oportunidade real de fortalecer a prevenção, reduzir custos assistenciais e apoiar decisões de gestão de saúde mais inteligentes.

Neste artigo, reunimos os principais pontos debatidos no WellbeTalks sobre a nova NR-1, com o objetivo de esclarecer dúvidas frequentes e ajudar você a orientar seus clientes com confiança.

NR-1: uma mudança no olhar

NR-1 sempre foi a norma que estabelece as diretrizes gerais de segurança e saúde no trabalho. Agora, com a nova redação, ela amplia seu escopo para incluir fatores psicossociais como parte obrigatória da gestão de riscos. E o que isso significa?

Em vez de focar apenas em perigos físicos ou ambientais, as empresas precisam mapear e mitigar fatores como sobrecarga de trabalho, metas inalcançáveis, jornadas exaustivas, relações interpessoais conflituosas, isolamento e falta de apoio da liderança.

Esses elementos, ainda que muitas vezes invisíveis, têm impacto direto na saúde dos trabalhadores — podendo desencadear desde estresse crônico e insônia até quadros mais graves, como ansiedade, depressão e doenças físicas.

Perguntas e respostas sobre a NR -1

Pensando nisso, reunimos os principais pontos discutidos no WellbeTalks sobre o tema, com uma proposta simples: responder de forma clara e direta às perguntas que mais apareceram entre corretoras, consultorias e empresas.

Vamos lá?

1. A nova NR-1 muda muita coisa?

Não exatamente — mas o impacto é real.

A NR-1 sempre foi a norma que estabelece as diretrizes gerais de segurança e saúde no trabalho. Com a atualização, o foco passa a incluir riscos psicossociais de forma mais ampla e sistematizada. Ou seja, a forma de olhar para o bem-estar dos trabalhadores se expande, integrando fatores que antes eram negligenciados.

Por isso, a norma “não muda tudo”, mas obriga uma mudança no olhar.

2. O que são riscos psicossociais, afinal?

Riscos psicossociais no trabalho são condições organizacionais, ambientais e sociais que, somadas às características individuais de cada trabalhador, podem afetar negativamente sua saúde física e mental.

Em outras palavras, não estamos falando apenas de “transtornos mentais”. riscos psicossociais incluem:

  • Excesso de carga de trabalho;
  • Metas inalcançáveis;
  • Falta de apoio da liderança;
  • Ambiente hostil;
  • Isolamento social;
  • Jornadas exaustivas;
  • Ruídos constantes, que também afetam o bem-estar mental.

Esses fatores podem desencadear desde ansiedade até problemas musculoesqueléticos ou cardiovasculares. E é aí que entra a importância da nova NR-1.

3. A norma exige que eu identifique quem tem depressão ou ansiedade?

Não! Esse é um dos maiores mitos — e precisa ser combatido.

A atualização da NR-1 não exige diagnóstico de transtornos mentais. O que ela traz é a necessidade de mapear os fatores de risco presentes no ambiente de trabalho que possam levar ao adoecimento.

Em resumo: não se trata de rastrear sofrimento mental, mas sim de prevenir que ele aconteça.

Por isso, o foco está em identificar o que no trabalho pode ser fonte de sofrimento, antes que ele se manifeste. É uma abordagem preventiva, e não diagnóstica.

4. Como esse mapeamento deve ser feito?

A NR-1 exige que as empresas incluam os riscos psicossociais no seu programa de gerenciamento de riscos (PGR). Esse mapeamento deve considerar:

  • Condições de trabalho;
  • Organização das tarefas;
  • Relações interpessoais no ambiente de trabalho;
  • Demandas emocionais e cognitivas;
  • Percepção de apoio e reconhecimento.

É importante lembrar que isso não substitui ações de saúde mental, como rodas de conversa, palestras ou apoio psicológico. O mapeamento é uma etapa anterior, focada em identificar onde está o risco — não quem está sofrendo.

5. Empresas pequenas também precisam se adequar à NR-1?

Sim, e esse é um ponto crítico.

Um erro comum é pensar que apenas grandes empresas precisam se preocupar com essas normas. Na prática, todas as empresas, independentemente do porte, estão sujeitas à NR-1.

E justamente as PMEs são as que mais precisam de apoio. Muitas vezes, contam apenas com o básico da saúde ocupacional: exames admissionais, demissionais e periódicos. Com a atualização, precisam ir além — o que pode ser um desafio.

Por isso, o papel da consultoria e da corretora de saúde se torna ainda mais estratégico, oferecendo suporte para cumprir com a norma de forma realista e eficiente.

6. A empresa passa a ser responsável pela saúde mental do colaborador?

Essa dúvida apareceu bastante — e a resposta é não exatamente. O que a NR-1 exige é que a empresa mapeie e mitigue os riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho.

Isso não significa que ela será responsabilizada por tudo o que acontecer com o trabalhador. No entanto, se não houver esse mapeamento e acontecer um afastamento, pode ser mais difícil provar que não há nexo com o trabalho — e aí os impactos previdenciários e tributários são reais.

Então, mais do que uma obrigação legal, o mapeamento é uma proteção jurídica para a empresa.

7. E como fica a questão do sigilo médico?

Essa é uma preocupação legítima — especialmente para RHs e lideranças. Mas é importante destacar que, como já explicamos, o mapeamento é populacional, e não individual.

Ou seja, não há coleta de dados pessoais sobre quem tem ou não algum transtorno. O que se analisa são as condições do ambiente de trabalho e seus potenciais riscos para todos os colaboradores.

Portanto, o sigilo está preservado. e mais: não é papel da empresa fazer diagnóstico clínico.

8. Como isso se conecta à saúde suplementar?

Essa pergunta foi levantada no WellbeTalks e é uma das mais interessantes.

Com a NR-1 exigindo um olhar mais amplo para os riscos psicossociais, os custos com assistência à saúde também podem ser impactados. Isso porque, ao atuar na causa dos problemas, evita-se que os efeitos virem sinistros nos planos de saúde.

Por isso, ações de prevenção orientadas por dados, bem como gestão populacional de saúde, são aliadas diretas da NR-1.

E aqui, mais uma vez, o papel da corretora e da consultoria se fortalece: orientar, apoiar e oferecer soluções que façam sentido para o contexto de cada empresa.

9. Que ferramentas posso usar para ajudar meus clientes?

Embora a norma ainda não traga um modelo único, o mercado já se movimenta para oferecer soluções.

No WellbeTalks, mencionamos que a própria Wellbe está preparando soluções integradas com foco no mapeamento de riscos e geração de insights acionáveis.

Então, fique de olho. E mais importante: mantenha uma postura proativa com seus clientes. O momento de agir é agora.

10. A atualização é mais uma exigência ou uma oportunidade?

A verdade é que ela é as duas coisas.

Sem dúvida, é uma exigência normativa. Mas também é uma oportunidade única de reposicionar o papel da consultoria em saúde corporativa. Mais do que vender planos, é hora de entregar valor em forma de gestão de saúde e prevenção.

O WellbeTalks deixou claro: quem entender a NR-1 apenas como burocracia vai perder espaço. Quem enxergar o potencial estratégico dessa atualização vai sair na frente.

A atualização da NR-1 não é um “bicho de sete cabeças” — mas também não pode ser ignorada.

Ela pede uma mudança de mentalidade, tanto por parte das empresas quanto das corretoras e consultorias. E, como vimos, a principal transformação está na forma de olhar para a saúde do trabalhador como um todo, de forma preventiva, sistêmica e estratégica.

Mais do que nunca, esse é o momento de assumir um papel ativo no apoio aos seus clientes. Entender a norma, orientar sobre os riscos, propor soluções e conectar dados com ações concretas.

Em última análise, a NR-1 é mais uma peça no quebra-cabeça da gestão de saúde. E quem souber montar esse quebra-cabeça com inteligência, cuidado e visão, vai colher resultados — para todos os lados.

Quer conferir o WellbeTalks na íntegra? Clique aqui!

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